domingo, 30 de dezembro de 2007

Educação Ambiental, mas qual?


Síntese

Nesta breve reflexão que teve como motivação as aulas da disciplina de Educação Ambiental em Contextos Diferenciados, depois de abordar a questão das várias classificações possíveis das diversas correntes de educação ambiental, apresento três delas: a educação ambiental para a conservação, a educação ambiental ecológica e a educação ambiental popular. Depois, na sequência da questão levantada numa das aulas acerca de qual a corrente com que nos identificávamos mais, apresento a minha opinião acerca do que se faz nos Açores, tendo concluído que o que têm feito as ONGAS e o próprio Governo Regional dos Açores, é essencialmente a difusão de valores ambientais e a colaboração com programas do sistema de ensino formal.


Breve Reflexão

Do mesmo modo que quando se fala em movimentos de defesa do ambiente estamos a falar numa panóplia de vertentes, de que são exemplo o conservacionismo, que tem como preocupação central a protecção das espécies e dos sistemas naturais (Sorrentino, 2005) ou a ecologia social, de carácter libertário, que propõe um novo modelo social e uma nova forma de relacionamento com a natureza (Bookchin, 1984), também quando se aborda o tema educação ambiental estamos perante uma diversidade de “correntes”, isto é, “uma maneira geral de conceber e praticar a educação ambiental”(Sauvé, 2005).

São inúmeros os esforços no sentido da classificação das várias correntes de educação ambiental que, de acordo com Lima (1999), são “proporcionais, em número e, variedade, às tantas concepções de mundo, de sociedade, e de questão ambiental existentes”. A título de exemplo e antes de nos referirmos às que iremos aprofundar um pouco mais, apresentamos a proposta de Sorrentino que, segundo Lima (1999) as classifica em conservacionista, educação ao ar livre, gestão ambiental e economia ecológica. Por seu turno, Sauvé (2005), depois de referir que “a sistematização das correntes torna-se uma ferramenta de análise ao serviço da exploração da diversidade de proposições pedagógicas e não um grilhão que obriga a classificar tudo em categorias rígidas, com o risco de deformar a realidade”, apresenta 15 correntes, a saber: naturalista, conservacionista/recursionista, resolutiva, sistémica, científica, humanista, moral/ética, holística, biorregionalista, práxica, crítica, feminista, etnográfica, da coeducação, da sustentabilidade.

No âmbito deste trabalho apresentaremos (ver Anexo) algumas “características” das três correntes de educação ambiental propostas por Peña (1994):

- a educação para a conservação, cujos adeptos defendem o regresso à natureza, recusam o desenvolvimento tecnológico e consideram que a solução para os problemas ambientais passa pela alteração dos valores de cada um. Os seus promotores educam pelo exemplo, constroem as suas casas ecológicas, produzem os seus próprios alimentos, fazem as suas roupa , etc.;

- a educação ecológica cujos promotores não põem em causa o modelo de desenvolvimento actual, defendendo apenas alguns ajustes. Usam métodos de educação tradicionais e autoritários e pseudo - participativos. Uma educação formal, onde o educador e o especialista ocupam um papel de destaque;

- a educação ambiental popular que defende a necessidade de superar a actual lógica neoliberal e propõe mudanças políticas e a redistribuição do poder e da riqueza, sendo o seu grande objectivo fazer com que as pessoas ao aprenderem a pensar e a serem autogestionárias recuperem o poder de decisão entretanto perdido. Os seus promotores, valorizam a educação não formal e como processo contínuo e permanente. Promovem métodos do tipo participativo e dialógico, onde entre educador e educando se estabelecem relações de colaboração e aprendizagem mútua.


Mas, que educação ambiental se faz entre nós, nomeadamente o que fazem as associações de defesa do ambiente dos Açores?

Não sendo fácil responder à questão, vamos em primeiro lugar recorrer a Viola (1992) que nos diz que o papel das associações de defesa do ambiente na educação ambiental tem sido o de: 1) através da sua acção difundir valores ecológicos; 2) implementar programas próprios de educação ambiental; 3) colaborar com programas do sistema de ensino formal e 3) procurar envolver a população em programas de conservação ou restauração do ambiente danificado.

Desconhecendo-se qualquer reflexão por parte das ONGAS dos Açores sobre educação ambiental, o que conhecemos da sua prática leva-nos a concluir que a modalidade mais comum será a difusão de valores ecológicos, seguida da colaboração com programas do sistema de ensino formal. Com efeito, mencionando apenas as duas ONGAS dos Açores que têm protocolos com a SRAM- Secretaria Regional do Ambiente e do Mar com vista à gestão das Ecotecas, Os Montanheiros e Amigos dos Açores - Associação Ecológica, enquanto que a primeira tem limitado a sua actividade à gestão “turística” dos espaços naturais que gere, como a Gruta das Torres, na ilha do Pico, ou o Algar do Carvão, na ilha Terceira, a segunda que faz a gestão da Gruta do Carvão, na ilha de São Miguel, cavidade vulcânica que é visitada essencialmente por grupos escolares, tem criado materiais didácticos sobre os diversos temas que podem ser abordados no âmbito da educação ambiental, com destaque para a biodiversidade e a geodiversidade, a energia, a água, os resíduos, etc., tem mantido, anualmente, no seu plano de actividade um programa de apoio às escolas e promoveu, de Outubro a Dezembro de 2006, diversas acções de desobstrução e limpeza da Gruta do Carvão - Troço do Paim, onde foram removidos do interior desta cavidade 22 toneladas de lixos introduzidos pelo Homem e terras trazidas pelas águas de escorrência, com a participação de cerca de 50 voluntários.

Embora não muito activo, os Amigos dos Açores - Associação Ecológica possuem um Grupo de Trabalho de Educação Ambiental (GTEA), criado para “contribuir para a consciencialização acerca da interdependência económica, política e ecológica do mundo moderno, de modo a estimular o sentido da responsabilidade e solidariedade” através da Educação Ambiental, que tem como objectivos principais o apoio a professores e educadores interessados na implementação de projectos de educação ambiental e coordenar projectos de educação ambiental a implementar pela associação.

Como já tivemos oportunidade de referir, nos últimos anos, a principal actividade deste Grupo dos Amigos dos Açores, em termos de educação ambiental, tem sido implementada em parceria com a SRAM e para esta a educação ambiental consiste em “transmitir os valores ambientais do nosso arquipélago e do mundo” (Faustino, 2007).

A educação ambiental que temos tido, que não tem sido questionada nos Açores, sofre de um desvio naturalista e conservacionista, tendo como preocupação “salvar” o ambiente, entendido como recurso que é necessário “preservar para manter a maquinaria produtiva e reprodutiva do capital” (CARTEA, 2006). A corroborar estas afirmações, são elucidativas as declarações da senhora Secretária Regional do Ambiente a propósito de uma putativa Estratégia Regional de Educação Ambiental, que segundo ela existe nos Açores: “ Estamos a construir um sistema de Centros de Interpretação, que irão apoiar a visitação e o usufruto das áreas classificadas dos Açores…A abordagem não é apenas a transferência de informação, mas também o servir de alicerce para investimentos paralelos e privados”(Faustino, 2007).

Do nosso ponto de vista, para escolhermos que educação ambiental fazer, há que fazer opções: antes de mais há que escolher o modelo de sociedade que queremos. Havendo várias opções, limitar-me-ei a mencionar duas delas: a que tem subjacente o conceito de desenvolvimento sustentável ou a que propõe um decrescimento sustentável.

O desenvolvimento sustentável é “o que satisfaz as necessidades presentes, sem comprometer a capacidade das futuras gerações de suprir as suas próprias necessidades”(Tabacow, 2006). Acerca deste conceito, concordo com alguns autores que o consideram vago, e “pouco efectivo em termos concretos”(FBOMS, 2002, citado por Tabacow, 2006), permitindo que em seu nome tudo se possa fazer, como continuar a defender um crescimento económico ilimitado num mundo em que os recursos são finitos, ou como um “fetiche útil na medida em que o seu significado depende de quem o usa, do contexto em que é usado e para que é usado” (CARTEA, 2006). Por seu turno, para o conceito de decrescimento sustentável, não está em causa, apenas, a diminuição dos consumos, mas também o modo de funcionamento da economia actual (produção – distribuição - consumo), propondo uma “ruptura da lógica subjacente ao modelo capitalista de um crescimento constante e auto-alimentado, que origina o consumismo” (Janela, 2006).

Pico da Pedra, 29 de Dezembro de 2007
Teófilo Braga

BIBLIOGRAFIA
BOOKCHIN, M., (1984), “El concepto de ecologia social”, Ecofilosofias, diseñando nuevas formas de vida- Cuaderno nº3 de la revista Integral, Integral Edicions, Barcelona.

CARTEA, P., (2006), “Elogio de la Educación Ambiental”, Trayectorias, ano VIII,nº 20-21.

FAUSTINO, P., (2007), “Nos Açores haverá cobertura de 100% no Licenciamento Ambiental”, 100 Maiores Empresas dos Açores 2006, Açormédia, Ponta Delgada

JANELA, J., (2006), “A Pegada Ecológica e o Decrescimento Sustentável”, Utopia, nº 21

LIMA, G., (1999), “Questão Ambiental e Educação: contribuições para o debate”, Ambiente e Sociedade, NEPAM/UNICAMP, Campinas, ano II, nº5, 135-153.

PEÑA, O., (1994), Hacia una educación ambiental participativa y autogestionária, tesis de maestria en Ciencias con especialidad en Medio Ambiente e Desarrollo Integrado, Instituto Politécnico Nacional, México D.F., (http://www.laneta.apc.org/urbania/urbani13.htm- consultada em 16 de Dezembro de 2007)

SAUVÉ, L., (2005), “Uma cartografia das correntes em educação ambiental”, in SATO, M., CARVALHO, I., (ed.), Educação Ambiental, Pesquisa e Desafios, Artmed, Porto Alegre.

SORRENTINO, M., (2005), “Prefácio”, in SATO, M., CARVALHO, I., (ed.), Educação Ambiental, Pesquisa e Desafios, Artmed, Porto Alegre.

TABACOW, J.(2006), “Sustentabilidade, euforia utópica ou logorréia estéril?”, in GERRA, A. (org), Iniciativa Solvin 2006: arquitectura sustentável. Romano Guerra Editora, São Paulo.

Viola, E. (1995), “O ambientalismo multissetorial no Brasil para além da Rio-92: o desafio de uma estratégia globalista viável”, in Viola, E, LEIS, H., SCHERER-WARREN, I., GUIVANT, J., VIEIRA, P., KRISCHKER, P., Meio Ambiente, desenvolvimento e cidadania: desafios para as ciências sociais, Cortez/UFSC, Florianópolis.


http://amigos-acores.freehostia.com (acedido em 25 de Dezembro de 2007)


http://www.montanheiros.com (acedido em 25 de Dezembro de 2007)