quinta-feira, 17 de julho de 2008

Entrevista à Contacto Verde, nº 46, 15 de Julho de 2008


Foto: Clube Asas de São Miguel.

1. Quando surgiu a Associação? O que motivou o seu início de actividade?

R- A associação apareceu em 1984, como núcleo regional da Associação Portuguesa de Ecologistas- Amigos da Terra. No inicio as preocupações principais eram a conservação da natureza e a educação para a paz e a procura de alternativas para a vida em sociedade.

2.Que grupos de trabalho e colectivos existem na Associação? Poderia abordar um pouco da actividade de cada um?


Nos Amigos dos Açores existem os seguintes grupos de trabalho: GTE- Grupo de Trabalho de Espeleologia, GTAAL - Grupo de Trabalho de Actividades de Ar Livre, GTEA- Grupo de Trabalho de Educação Ambiental e Grupo de Fotografia de Natureza.
O Grupo de Trabalho de Espeleologia que tem por objectivos, entre outros, realizar estudos espeleológicos e editar publicações fez o levantamento das grutas e algares de São Miguel, bem como tem realizado estudos no âmbito da vulcanoespeleologia. Além disso, o Grupo tem participado em diversos encontros internacionais de espeleologia, onde tem apresentado comunicações e elaborou o livro Grutas, Algares e Vulcões.
O Grupo de Trabalho de Actividades de Ar Livre, que tem por objectivo principal a defesa, valorização e divulgação do património natural e cultural através da prática do pedestrianismo, promove a realização de saídas de campo de redescoberta de caminhos antigos, com vista à sua recuperação para a prática do pedestrianismo, faz a monitorização dos trilhos existentes, promove e participa em acções de formação na
O Grupo de Trabalho de Educação Ambiental tem por objectivos principais reflectir sobre a temática da educação ambiental, apoiar professores e educadores e coordenar projectos de educação ambiental da associação. O GTEA, para além da elaboração de materiais diversos, tem participado em acções de sensibilização, sobretudo em escolas dos mais diversos níveis de
O Grupo de Fotografia de Natureza tem por objectivo a divulgação e a defesa do património natural dos Açores através da fotografia. Neste sentido o grupo já criou um blog (http://ecofoto-acores.blogspot.com/) e tem em preparação a realização de vários cursos de fotografia.
3. Há alguns momentos-chave da vida da Associação que gostasse de destacar?

Para além da criação da associação em Janeiro de 1984, há a destacar a passagem a associação regional, em 2 de Dezembro de 1987, com a designação “Amigos da Terra/Açores, e a adopção da actual designação, a 19 de Outubro de 1989.

4. Há alguns elementos do património natural particularmente ligados à vida da Associação? Quais? O que os distingue?

Entre outros exemplos, destacaríamos quatro áreas protegidas que foram classificadas como tal por propostas dos Amigos dos Açores que foram aceites pela Secretaria Regional do Ambiente e do Mar: Caldeira Velha, Pico das Camarinhas e Ponta da Ferraria, Gruta do Carvão e Lagoas do Congro e Nenúfares.
A Caldeira Velha apresenta fumarolas, afloramentos rochosos traquíticos e uma nascente termal que origina uma ribeira de vale encaixado.
A Gruta do Carvão, maior túnel lávico conhecido na ilha de São Miguel (com 1869 m actualmente conhecidos) apresenta diversas estruturas vulcanospeleológicas, com destaque para paredes estriadas, longos balcões, canais sobrepostos, vestígios de bolhas de gás, numerosas estalactites de fusão e algumas estalagmites resultantes da sobreposição de pingos de lava.
O Pico da Camarinhas corresponde a um cone de escórias basálticas associado à fajã lávica da Ponta da Ferraria. Nesta fajã existe uma nascente termal e um cone litoral que constitui um pequeno cone piroclástico sem conduta de alimentação profunda.
As Lagoas do Congro e dos Nenúfares ocupam uma cratera de explosão hidromagmática (maar) e apresentam um grande interesse paisagístico.

5. Que problemas ambientais se destacam na Região dos Açores?

Em primeiro lugar, queríamos destacar o défice de participação pública que estará associado a uma deficiente educação ambiental, muito centrada na divulgação do património natural dos Açores e não na alteração de comportamentos.

Outra das questões que é muito esquecida é a forte dependência dos Açores dos combustíveis fósseis. Achamos que a região não está a aproveitar em pleno as suas potencialidades em termos de recursos renováveis e sobretudo não tem apostado seriamente na poupança e eficiência energéticas.

Há também problemas relacionados com o ordenamento do território, um dos quais, o mais mediático, está relacionado com a eutrofização das grandes lagoas de São Miguel, problema que se arrasta há muitos anos, e com a gestão dos resíduos sólidos, apontando-se neste caso a grande falha que consiste na inexistência de um Plano Regional para a Redução dos mesmos. A política tem sido “os resíduos são um negócio” quando o lema deveria ser “o melhor resíduo é o que não se produz”.


6. Actualmente, há algum atentado ambiental que tenha suscitado a acção da Associação? Qual? Com que desenvolvimentos?


Não queríamos destacar nenhum problema específico, estamos atentos ao que vai acontecendo e tem sido nosso objectivo pressionar as entidades para a resolução dos diversos problemas, quer directamente, quer através dos órgãos de comunicação social. A título de exemplo, e embora não tenhamos tomado uma posição pública, falaria no caso da construção de uma estrada para a Fajã do Calhau (já referida na entrevista concedida pela Associação Amigos do Calhau). Neste caso, temos a certeza que pouco seria possível fazer pois tratava-se de uma obra da “responsabilidade” da presidência do Governo Regional dos Açores e com a conivência de quase todos os grandes partidos regionais, como o PS e o PSD que nunca se manifestaram contra. Também, devido a um caso anterior, não acreditamos nas queixas à Comunidade Europeia.



7. Têm estado em contacto com outras associações no âmbito da vossa actividade? Consideram importante esse contacto?

Achamos que é importante manter contactos, aos mais diversos níveis, com associações congéneres com vista à troca de experiências e à realização de actividades em comum. Nesse sentido os Amigos dos Açores têm protocolos celebrados com várias outras associações, como com o GEOTA e a SETA, a nível nacional, com os Montanheiros e a Gê-Questa, a nível regional, e está em preparação um protocolo, envolvendo uma associação da Madeira e outra das Canárias.

Começamos, recentemente, a colaborar com outra associação existente em São Miguel, a Associação Ecológica Amigos do Calhau.

Ler a entrevista aqui.