sexta-feira, 30 de outubro de 2009

A Campanha SOS- Cagarro e o Ambientalismo de Alcatifa



Em Novembro de 1993, coordenada pelos Amigos dos Açores, teve inicio a campanha "A Escola e o Cagarro", no âmbito da qual foi aplicado um inquérito, sobre a espécie, destinado a alunos das escolas, nomeadamente do 1º e 2º ciclos do ensino básico, e distribuídos 10 mil folhetos.

Foi esta iniciativa, que teve como principal mentor o Eng. Luís Monteiro, do Departamento de Oceanografia e Pescas da Universidade dos Açores, que deu origem à actual campanha “SOS- Cagarro”. Esta tem como objectivo principal salvar o maior número possível de cagarros, a ave marinha mais abundante dos Açores, cujo número se encontra em regressão a nível mundial.

Não sendo o cagarro propriedade de ninguém, das entidades oficiais espera-se, apenas, a disponibilização de informação e meios ao cada vez maior número de voluntários que todas as noites, nos meses de Outubro e de Novembro, se disponibilizam para participar nas brigadas que se têm constituído para a recolha de cagarros e sua posterior devolução ao mar.

Para além dos voluntários já referidos, é de louvar o papel de algumas associações ou grupos informais, como os Amigos dos Açores e os Amigos do Calhau, de São Miguel, e o CADEP, de Santa Maria, que têm coordenado o trabalho voluntário e promovido a defesa daquela espécie sobretudo no Grupo Oriental dos Açores.

De igual modo, embora não seja de estranhar, as mais de trinta associações reconhecidas como tal pela Assembleia Legislativa Regional dos Açores mantêm um silêncio absoluto sobre o assunto e têm-se abstido de qualquer participação activa nesta campanha.

Embora respeitemos a pluralidade do denominado movimento ambientalista, não compreendemos a sua descoordenação e muito menos a tentativa periódica, de alguns, de criar estruturas que têm apenas como o objectivo de lá se colocarem com vista a tornarem-se visíveis para posteriores voos.

A obsessão em serem representantes de outros em comissões ou nos variados conselhos consultivos e a fobia em trabalharem no terreno, junto das populações, onde estão localizados os problemas ambientais, que mais não são do que problemas sociais, faz com que eles pertençam a uma tipologia especial: a dos ambientalistas de alcatifa.

T.Braga

(Publicado no Jornal Terra Nostra, nº 429, p.20, 30 de Outubro de 2009)