quarta-feira, 17 de março de 2010

Por que não Limpo Portugal?




Tenho recebido, pelos mais diversos meios, convites para participar no próximo sábado, 20 de Março, na iniciativa Limpar Portugal.

Para quem há cerca de 30 anos tem dedicado parte substancial da sua vida ao trabalho voluntário, nomeadamente na área da protecção do ambiente, pode parecer estranho a sua não participação numa iniciativa que parece bem-intencionada e que vai contar com a dedicação de muitos voluntários, em todo o país.

Vejo-me na obrigação de tentar expor algumas razões para a não participação já que, perante a minha resposta negativa, tenho recebido alguns comentários um pouco desagradáveis, sobretudo de pessoas que conheço há mais de duas ou três décadas e que nunca na sua vida deram um pouco do seu tempo para ajudar os outros, seja em questões do foro ambiental ou social.

Aqui vão, entre outras, três das razões:

1- Considero a iniciativa meramente simbólica já que num dia não conseguirá alcançar os objectivos pretendidos;

2- O não envolvimento das populações responsáveis pelos despejos de resíduos, nomeadamente as residentes no litoral, não as responsabilizará pelas suas más práticas. Assim, verificar-se-á o que tem acontecido até aqui: “uns limpam e os outros continuarão a sujar”;

3- Sentir-me-ia mal com a minha consciência ao participar num projecto de puro activismo, em que a reflexão sobre as causas da má (ou não) gestão dos resíduos está ausente;

Não queria terminar este texto (diria, quase desabafo) reafirmando a minha concordância com o que outros já disseram, isto é, os problemas ambientais são problemas sociais e que para a sua resolução são necessárias alterações no comportamento tanto em grande escala como individual.

Por último, em relação ao problema dos resíduos, concordo que este nunca será bem resolvido enquanto não se considerar que o melhor resíduo é o que não se produz e subscrevo as afirmações de Manuel Castells quando afirma que a maioria dos problemas ambientais mais elementares ainda não foi resolvida porque o “seu tratamento requer uma mudança nos meios de produção e de consumo bem como da nossa organização social e das nossas vidas pessoais”.

T. Braga

17 de Março de 2010