domingo, 26 de dezembro de 2010

Caça ou “Birdwatching”?


(Praia de Água d'Alto, 27 de Outubro de 2002)

Como já por várias vezes escrevi, não temos um Governo Regional nos Açores, mas sim vários. Uns mais ambientalistas, outros mais anti-ambientalistas, sendo que, de uma maneira geral os meios e os montantes usados na protecção do ambiente são menores do que os usados na destruição da natureza, que é, diria eu, lenta mas “sustentável.

Vem esta introdução a propósito de uma proposta que mantém como espécies cinegéticas várias espécies de patos, alguns deles com ocorrência muito rara nos Açores, o que a ser aprovada entrará em contradição com o investimento que a região tem feito no turismo de natureza. No caso presente, temos a Secretaria Regional do Ambiente e do Mar a inviabilizar o trabalho da Secretaria Regional da Economia, através da Direcção Regional do Turismo.

A caça em todo o mundo está a sofrer uma enorme pressão por parte de uma nova geração mais sensibilizada para a defesa do património natural, sendo substituída por outras actividades como o pedestrianismo, com mais de 15 milhões de participantes, e o Birdwatching ou Observação de Aves, praticada por mais de 80 milhões de pessoas. Mesmo alguns caçadores desportivos têm diminuído a sua prática ou mesmo abandonado o seu “hobby”, trocando-o pela observação de aves, pela “caça” fotográfica ou pela realização de filmagens.

Por seu lado, a observação de aves, embora seja uma actividade com alguns impactos ambientais negativos, sempre muito menores do que, por exemplo a caça ou a pecuária intensiva, para além de trazer riqueza para as populações das várias localidades onde aquela é feita, pode contribuir para a conservação do ambiente, a longo prazo, pois os praticantes, normalmente pessoas com algum poder económico e elevado grau de instrução, para além de estarem dispostos a pagar para a conservação dos lugares que visitam, poderão ser preciosos auxiliares na fiscalização das zonas visitadas.
Embora não tenha sido nossa intenção esgotar os argumentos para justificar a necessidade da promoção de actividades mais saudáveis e mais respeitadoras do ambiente e dos animais, como são o pedestrianismo e a observação de aves, em detrimento de uma outra actividade, a caça, com maiores impactos ambientais e que provoca alguma insegurança (para não mencionar os acidentes e mortes) derivada do uso de armas, pensamos que os mesmos são mais do que suficientes para que o Governo Regional retire todas as espécies de patos na lista de aves cinegéticas.

Por último, pensamos que caberá a todos nós - não caçadores, ambientalistas consequentes, ecologistas de vários matizes, birdwatchers, defensores do património natural ou simples amantes da natureza – manifestar o nosso repúdio pela aprovação de uma legislação que vai contribuir para o empobrecimento da biodiversidade dos Açores e impedir o próprio desenvolvimento de toda uma região para benefício de uns poucos.

Pico da Pedra, 26 de Dezembro de 2010

Teófilo Braga

Nota- É possivel que tenha saído num jornal de São Miguel uma versão deste texto com algumas incorrecções.