domingo, 19 de junho de 2011

As aparências iludem?



1-A SCUT para a Fajã

A fim de satisfazer a pretensão de alguns proprietários, o Governo Regional dos Açores decidiu abrir uma estrada para a Fajã do Calhau. No início dos trabalhos, um dos responsáveis afirmou-me, aquando de uma visita que fiz ao local, que a dificuldade da obra se encontrava no ponto mais alto dos terrenos pois por razões económicas não poderiam tirar a terra do local, sendo a única opção viável empurrá-la para o litoral.
Na mesma ocasião, manifestei a minha discordância com a referida obra, mas nunca acreditei que a mesma viesse a atingir as proporções que todos nós conhecemos. O desagrado com o que estava a ser feito, não foi apenas dos chamados ambientalistas, havendo, também, dentro do próprio governo quem levantasse muitas dúvidas.
A cereja em cima do bolo, veio, mais tarde, quando alguém, para justificar o injustificável afirmou que a obra se destinava ou era muito importante para o combate às infestantes.
Não tenho qualquer fobia a estradas e a da Fajã do Calhau não é a minha inimiga de estimação predilecta, como também não tenho nada, pessoalmente, contra as pessoas que têm a suas propriedades, terras e casas, na referida localidade, podendo alguns deles testemunhar que eu (e outras pessoas, claro!) um dia pensei que seria possível a instalação de um projecto inovador para alimentar as casas lá existentes, através de uma pequena central eléctrica fotovoltaica.
O projecto falhou na Fajã do Calhau ou noutra fajã qualquer por diversas razões, sendo uma delas o facto de ter sido preterido a favor da produção de hidrogénio que iria revolucionar a produção energética nos Açores e no mundo. Continuamos à espera…
Mas, com a estrada da Fajã do Calhau, aprendi que, muitas vezes, as pessoas envolvem-se civicamente não com fins altruístas, mas para implementar projectos pessoais, o que há partida não tem nada de mal, desde que tal não seja um objectivo oculto.
Também aprendi que as pessoas, por muito democratas que sejam ou que o digam ser, por vezes, não toleram opiniões diversas das suas.
Será caso para dizer “se queres conhecer o vilão, põe-lhe o pau na mão”?

2-Ambiente, desporto ou agricultura?

Entre as diversas associações ditas de ambiente, existem algumas que não possuem qualquer vida associativa, limitando-se esta a uma eleição formal dos órgãos sociais, já que o mando historicamente sempre esteve e continua a estar na mão de uma só pessoa.
Essa pessoa, simpática e de bom trato com todos, tem o defeito (ou virtude?) de não dizer não a ninguém, sobretudo aos detentores dos mais diversos poderes instalados. Para evitar a pessoalização, que não é o nosso objectivo, essa ou essas pessoas dirigem associações que têm todas as características de associações de carácter recreativo ou desportivo e as associações deste tipo têm objectivos muito direccionados para os seus membros e o seu contributo para o debate na esfera pública é muito diminuto, para não dizer que é nulo. José Manuel Viegas, num texto publicado em 2004 e a propósito da presença das associações desportivas ou culturais na comunicação social, menciona que “tendem apenas a valorizar a sua identidade, as suas tradições e o consenso social, esquivando-se às questões mais políticas ou conflituais. Exceptuam-se as situações em que estão em causa os apoios financeiros a receber por essas associações”.
Mas, o episódio que não me sai da cabeça foi o aproveitamento da possibilidade que as associações têm para estarem representadas em determinados órgãos de carácter consultivo para fins pessoais ou de outrem, de carácter no mínimo duvidoso.
Em 2008, o Governo Regional dos Açores solicitou o nome de uma pessoa para representar as várias associações no Comité Prorural. Fui contactado pelo presidente de uma associação que manifestou o interesse em estar presente no referido comité e em nome dos Amigos dos Açores manifestei a minha concordância. Tal não foi o meu espanto, quando me foi dado conhecimento que o representante das associações não era o que foi previamente acordado, mas sim o membro de outra que era simultaneamente técnico de uma associação de agricultores, que, como é sabido, tem interesses directos naquele programa.
Acreditando na boa fé dos envolvidos, fica a questão: tratou-se apenas de juntar o útil ao agradável?

Teófilo Braga