segunda-feira, 13 de junho de 2011

VERÍSSIMO BORGES E OS TRANSGÉNICOS



Uma explicação prévia

O texto que abaixo divulgo, é um extracto do 4º artigo de uma série que ele intitulou “ALGUMAS “IDEIAS CHAVE” da CANDIDATURA de VERÍSSIMO BORGES às próximas eleições”.

Dada a actualidade do mesmo e por desconhecer se foi ou não publicado no Correio dos Açores, achei por bem torná-lo público.

Espero estar a contribuir para que a sua voz continue a ser ouvida, mesmo após o seu falecimento a 8 de Outubro de 2008.

Teófilo


Açores Região Livre de Transgénicos


“…A segunda prende-se com a proposta de legislação que decreta os Açores como “Região Livre de Transgénicos” , ou OGM (Organismos Geneticamente Modificados).

Esta proposta é política e economicamente bastante mais relevante, não só pelas sucessivas descobertas de perigosidade biológica de transgénicos manipulados por fortíssimos lobbies multinacionais, que progressivamente vão empobrecendo e desertificando vastas áreas do globo, com cada vez maiores e mais gritantes casos de desinformação e falta de precaução das multinacionais envolvidas, mas também pelo já nítido recuo de alguma permissividade das instâncias europeias face às pressões chantagistas destes grupos americanos.

Só nos últimos meses a França eliminou as anteriores concessões de plantação de OGMs, criando uma moratória para estas plantações no seu território, a Alemanha prepara uma mais férrea imposição dos princípios precaucionários e a Polónia elabora a mais rígida legislação interna anti-cultivo de OGMs.

No ano passado era ainda a Áustria olhada com maus olhos pela CE por, isoladamente, insistir em tolerância zero no cultivo de OGM no seu território.
Acrescem as elevadas percentagens com que a maioria absoluta dos consumidores europeus repudia transgénicos nos seus pratos, forçando a sua rotulagem obrigatória e associando os OGM à realidade de inimigos objectivos da Agricultura Biológica, pondo em causa a própria apicultura.

Nos Açores não cultivamos transgénicos, mas temos uma imagem a defender.

Note-se que a Associação Agrícola não perde oportunidade de os defender, para além da imagem portuguesa que está associada a estes cultivos em plena expansão de áreas utilizadas, acrescida da ilegalidade do Ministro da Agricultura continuar a reter a identificação obrigatória em pormenor, das áreas efectivamente ocupadas por estas culturas.

Ora o cultivo de OGM busca sempre grandes explorações de monocultura e nos Açores, para além de pastagens, só produzimos milho de forragem e este está fora dos interesses das multinacionais envolvidas.

Não nos imaginamos como futuros produtores de colza, nem de algodão e o pouco milho grão que produzimos apresenta uma variabilidade genética considerável, a defender, com raças e variedades locais que já justificaram a criação de um banco de sementes.

Mas a pressão de plantação de transgénicos nas nossas ilhas existe e é persistente, não pelos valores económicos que possam estar envolvidos, mas sim pela estratégia das multinacionais não deixarem território por explorar. São como o doente que gosta de contaminar os outros (sente-se melhor acompanhado).

Nos Açores, sendo ilhas isoladas, o único interesse das multinacionais será a instalação de campos experimentais de casos realmente perigosos, ao ponto de terem medo da perca de controlo e fuga para a natureza nos seus próprios países.

A Universidade dos Açores, há poucos anos, já foi abordada para a realização de experiências deste tipo (Vasco Garcia).
Neste contexto surge o interesse objectivo e subjectivo de decretar todas as ilhas açorianas como “Região Livre de Transgénicos” e abandonar os projectos peregrinos, existentes na gaveta, de tornar a breve trecho a Graciosa em campo experimental.

Neste domínio, assumindo uma imagem limpa e não conspurcada, vamos ao encontro do sentir dos nossos melhores turistas. Assim consolidamos a nossa imagem de natureza “virgem” e caminhamos para melhor certificação dos nossos produtos, não hipotecando o nosso futuro potencial e mais-valias na área da Agricultura Biológica.

A simples classificação dos Açores como “Região Livre de Transgénicos” vem diluir a pressão das nossas rações contaminadas. É que, para além de devermos evitar a importação de OGMs (especialmente os ilegais na CE) este controle revela-se difícil e por vezes impossível.

E como resta espaço neste artigo, avanço uma outra ideia: “Criar nos Açores Banco de Sementes ameaçadas noutras partes do mundo pela disseminação de OGM”.

Muito simples de entender: Se temos 9 ilhas isoladas com clima temperado, poderemos em cada uma delas cultivar, em pequena escala, uma raça ou variedade de leguminosas ou cereais, considerados nas suas terras de origem como de elevado interesse potencial e em grave risco de diluição genética pelos OGM introduzidos.

Estes projectos, ambientalmente inócuos, poderiam até ser financiados pela FAO e originar futuras exportações das respectivas sementes para repovoamento dos países de origem.

Veríssimo Borges