sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

Sujidade verde


Verde, mas sujo

Depois de um longo período em que o ambiente, ou melhor a natureza, era uma preocupação de uns poucos que eram apodados pelos donos disto tudo de lunáticos, alguns problemas ambientais, nomeadamente catástrofes, como as de Seveso, Bophal ou Chernobil, fizeram com que crescesse o número de pessoas que se envolveram em movimentos criados para lutar pela defesa do ambiente e consequentemente por uma melhor qualidade de vida para todos os seres que com os humanos partilham a vida na Terra.
Para os mais esquecidos ou para quem nunca teve conhecimento, abaixo apresenta-se uma síntese do que foi cada uma das catástrofes.
A 10 de Julho de 1976, na cidade de Seveso, na Itália, uma instalação industrial libertou alguns quilos de uma dioxina que para além de contaminar os solos causou a morte direta de cerca de 3000 animais e fez com que outros 70 000 tivessem de ser abatidos para evitar a contaminação das cadeias alimentares. Além disso, desconhece-se se houve vítimas mortais humanas, mas sabe-se que no ano seguinte a taxa de defeitos congénitos aumentou mais de quarenta por cento.
Considerado como o mais grave desastre industrial ocorrido até hoje, a catástrofe de Bophal ocorreu a 3 de Dezembro de 1984 quando uma fábrica de pesticidas da Union Carbide, em Bhopal, na Índia, libertou 40 toneladas do gás isocianato metílico. Não se conhece exatamente a dimensão dos danos económicos e ambientais e o número de vítimas, mas Edward Goldsmith e Nicholas Hildyard estimaram o seguinte: pessoas mortas, entre 2 352 e 10 000; incapacitadas, 17 000 a 20 000, expostas, 200 000, evacuadas, 70 000.
A empresa, como é quase tradição, procurou fugir com o rabo à seringa, mas, segundo um relatório, o ocorrido deveu-se a “uma combinação de erros de gerência, equipamento mal concebido e má manutenção”.
Contrariando a propaganda da segurança infinita das centrais nucleares propalada pelos cientistas e dirigentes do capitalismo de estado russo, ou melhor soviético, a 26 de Abril de 1986, relativamente perto de Kiev, na Ucrânia, ocorreu um acidente numa central nuclear.
Como é habitual nestes casos onde as tecnologias são seguríssimas, nunca se saberá o número exato de vítimas, havendo uma previsão do professor John Gofman, da Universidade da Califórnia, que fala em mais de um milhão de vítimas.
Entre nós, não querendo ser alarmista, em breve vamos ter em funcionamento uma tecnologia também extra segura, que é a queima de resíduos para produção de energia elétrica que, pelo menos em parte do dia é desnecessária. Além disso, tem a vantagem de ser renovável, dizem eles, e verde, se pintarem as instalações de tal cor.
Verde também é a taxa que foi criada, pela Assembleia Legislativa Regional dos Açores, para penalizar o uso de sacos de plástico e que se traduzirá no saque de mais uns cobres a uma população que desinformada, deseducada, consumista e conformista irá pagar mais, em vez de mudar as suas atitudes e seus comportamentos. Se o que se pretende é reduzir até zero os sacos de plástico por que não se proíbe, de uma vez por todas ou gradualmente, o seu fabrico?
Verdes são também as taxas que vão inventando para sacar o máximo possível aos bolsos já depauperados de uma população que está exangue e exausta de tanto alimentar uma casta que se diz democrática, mas que não presta contas pela má gestão que levou o país à ruina.
Por que razão os nossos ambientalistas oficiais, defensores do aceite universalmente desenvolvimento sustentável que tanto gostam de louvar o princípio do poluidor- pagador, não alargam o conceito e criam o princípio do fazedor de dívida pública - pagador da mesma?
Se assim acontecesse, todos os políticos profissionais, ou afins, responsáveis por projetos megalómanos, inviáveis ou inúteis, todos os autarcas que derreteram as finanças das suas autarquias em obras de Santa Engrácia ou em aberrações de impossível manutenção, ficariam responsáveis, pessoalmente, pelo pagamento das dívidas que fizeram.
Só por si não era democracia a sério, mas era um bom começo.

Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 30532, 14 de janeiro de 2015, p.17)