sábado, 29 de julho de 2017

Percurso Pedestre do Pico da Vara


Percurso Pedestre do Pico da Vara

Embora haja vários trilhos para se chegar ao Pico da Vara, recomenda-se o que tem início na freguesia da Algarvia, localizada na costa Norte de São Miguel a cerca de 11 km do Nordeste.

O trilho referido é, não temos dúvida, o mais percorrido do Concelho de Nordeste e um dos mais procurados pelos micaelenses por conter o ponto mais alto da ilha, o Pico da Vara, que possui a altitude de 1103 m.

O trilho que liga a Algarvia ao Pico da Vara foi percorrido anualmente pelos Amigos dos Açores desde 1984, data da sua criação. Contudo, o primeiro roteiro do trilho mencionado só foi editado, pela referida associação não governamental de ambiente, em 2007. O texto é da autoria de Nuno e Avelar e de Teófilo Braga, sendo as fotografias deste, bem como do geólogo Rui Coutinho.

O percurso pedestre inicia-se no 4º troço da Tronqueira, a cerca de 4,3 km do centro da freguesia da Algarvia e desenvolve-se na Reserva Florestal Natural do Pico da Vara.

Neste local, devidamente sinalizado, para além das matas de criptoméria destaca-se a presença de duas espécies invasoras: o gigante e o verdenaz (cletra). A primeira, originária da América do Sul, foi introduzida com fins ornamentais nos jardins das Furnas e a segunda é uma árvore ou arbusto endémico do arquipélago da Madeira.

Depois de uma longa subida, chega-se a uma zona plana onde se avista parte do concelho da Povoação. Vira-se à esquerda e ao fim de algum tempo encontra-se um cruzeiro que assinala a queda de um avião, em 27 de Outubro de 1949.

Sobre aquele desastre, o jornal Açoriano Oriental, de 29 de Outubro de 1949, publicou o seguinte: “...sabendo-se então que era um super-Constelation da ”Air France” que, da uma para as duas da madrugada, fôra avistado sobrevoando a freguesia da Algarvia, vindo a despenhar-se no Pico Redondo nas faldas do Pico da Vara, do que resultou a morte de 11 tripulantes e 37 passageiros, entre os quais Marcel Cerdan, campeão francês de box, que seguia para a América, afim de ali disputar o campeonato mundial, no dia 1 do próximo mês.”

Neste local, entre outras espécies vegetais podemos observar o canicão, o patalugo, o feto do pente, o feto cabelinho e o queiró. Aqui, bem como ao longo do percurso é possível observar algumas aves com destaque para o melro-negro e o tentilhão.

Continuando o percurso, já próximo do Pico da Vara chega-se a um segundo cruzeiro, localizado na freguesia de Santo António, que assinala a queda de outro avião, ocorrida a 13 de maio de 1943. Neste acidente apenas foi vítima o 2º sargento Manuel Cardoso.

O trilho “termina” no cimo do Pico da Vara que está implantado na Reserva Natural do Pico da Vara, onde para além da presença do priolo, podemos encontrar quase todas as espécies da avifauna terrestre que nidificam nos Açores, sendo um dos raros locais da ilha de São Miguel de nidificação da narceja e da galinhola.

O priolo é uma espécie endémica da ilha de São Miguel que exibe uma coroa negra na cabeça e um bico forte, curto e cónico, de cor preta, apresentando a cobertura das asas e a parte superior da cauda acastanhada.
O priolo que no século XIX era abundante na parte Este da ilha de São Miguel foi considerado uma praga para os laranjais da ilha, hoje tem o seu habitat na floresta natural açoriana de altitude, constituída por várias espécies de árvores e arbustos endémicos, com destaque para o cedro do mato, o azevinho, a ginja, a urze, o pau branco e a uva da serra.
Depois de algum tempo de descanso no Pico da Vara, regressa-se à origem, chegando-se lá depois de se ter percorrido uma distância aproximada de 7 km e demorado cerca de 3 horas.
Teófilo Braga

quarta-feira, 26 de julho de 2017

Animais em cativeiro nas escolas


Animais em cativeiro nas escolas

“ (...) a amizade pela árvore, pelo riacho, pelo animal livre é indispensável para a formação de um ser humano que pretendemos amplo e nobre” Agostinho da Silva

Pessoa amiga contou-me que na pré-primária algumas educadoras mantêm nas suas salas peixes e ou tartarugas em aquários, aves em gaiolas e hamsters também em cativeiro.

A existência dos animais em cativeiro é justificada como meio para dar cumprimento à seguinte aprendizagem a promover: “Manifestar comportamentos de preocupação com a conservação da natureza e respeito pelo ambiente”. Para a concretização do exposto, segundo as orientações curriculares para a Educação Pré-Escolar os educadores deverão promover “a participação e responsabilidade das crianças no cuidado e proteção de seres vivos dentro e fora da escola (cuidar de plantas, de animais ou da horta na escola; cuidado com ninhos, plantas e animais nos jardins, parques e espaços verdes fora da escola).

Para além da razão apresentada, o tratar animais serve para fomentar “a participação das crianças no processo educativo através de oportunidades de decisão em comum de regras coletivas indispensáveis à vida social do grupo e à distribuição de tarefas necessárias à vida coletiva constituem experiências de vida democrática, que permitem tomar consciência dos seus direitos e deveres.”


Segundo a pessoa amiga referida, que é educadora mas não concorda com a prática das colegas, uma outra justificação está relacionada com a possível empatia para com os animais que as crianças adquiririam ao responsabilizar-se pela sua alimentação.

Sendo contra a existência de animais em cativeiro e não pondo em questão o facto de ser possível atingir o pretendido com a presença dos animais nas escolas, penso que o mesmo poderia ser alcançado com o cuidado de plantas que depois os alunos poderiam levar para as suas casas e plantar nos seus quintais e jardins.

Além do exposto, tenho dúvidas se a manutenção de um animal em cativeiro não leve à distração para a questão fundamental que é a necessidade de se proteger os habitats naturais que são os locais onde os animais devem estar.

Teófilo Braga
25 de julho de 2017
Imagem : http://lilliverdi.blogspot.pt/2011/10/chora-coracaopassarinho-na-gaiola.html

terça-feira, 18 de julho de 2017

domingo, 16 de julho de 2017

sexta-feira, 14 de julho de 2017

Percurso Pedestre do Sanguinho


Percurso Pedestre do Sanguinho

São essencialmente os trilhos pedestres, os estádios dos pedestrianistas, que levam os visitantes à Povoação. De entre os trilhos existentes naquele concelho, o do Sanguinho é o mais percorrido e um dos mais visitados da ilha de São Miguel.

A primeira edição do roteiro do percurso pedestre do Sanguinho, da responsabilidade dos Amigos dos Açores, com uma tiragem de 2000 exemplares, ocorreu no ano de 1997. Desde então até hoje, várias têm sido as reedições, sendo o mencionado roteiro um dos que mais procura tem, não só junto dos residentes mas também dos turistas.

O trilho do Sanguinho localiza-se na freguesia do Faial da Terra, assim denominada pelo facto do vale onde está implantada encontrar-se, na época da sua ocupação pelos primeiros habitantes, coberto de faias.

Na localidade, é digna de visita a igreja de Nossa Senhora da Graça. A primitiva igreja do Faial da Terra, que terá sido construída no início do século XVI, foi saqueada e incendiada, em 1597, por piratas ingleses, pertencentes a uma esquadra comandada pelo Conde de Essex. Em 1599, o vigário da localidade escreveu ao rei pedindo para que se construísse outra, o que terá acontecido pouco depois. Arruinada devido a frequentes abalos de terra, a igreja de Nossa Senhora da Graça começou a ser reparada e ampliada em 1818 e, a 8 de Abril de 1839, foi benzida pelo ouvidor Padre José Tavares de Medeiros, embora ainda não estivesse completamente remodelada. Por seu turno, a torre sineira desta igreja só seria construída em 1874.

Recomendamos o início do percurso em frente ao "teatro" do Espírito Santo, construído em 1908, no local designado por Burguete. Caminhando para norte e antes de chegarmos ao carreiro existente na margem direita da ribeira, passamos por algumas habitações e por um dos seis moinhos que chegaram a estar em funcionamento no Faial da Terra.

Depois de atravessarmos um afluente da ribeira do Faial da Terra, continua-se a subir um carreiro bastante inclinado onde se pode observar alguns vinháticos que é uma espécie que existe em todas as ilhas dos Açores, na Madeira e nas Canárias, tendo a sua madeira sido outrora muito apreciada. Para além dos vinháticos, podem ser observadas, entre outras plantas, acácias, conteiras, cigarrilheiras ou banksias e cavalinhas.

Quando se atinge à primeira bifurcação, vira-se à direita, caminha-se um pouco até o carreiro entrar numa mata de acácias e incensos. Descendo o trilho, um pouco depois chega-se à bonita queda de água, denominada Salto do Prego.

Depois de um merecido descanso ou um banho nas águas da Ribeira do Faial da Terra, regressa-se pelo mesmo caminho, até à bifurcação referida. Aí, continuando a caminhar, vira-se à direita, atravessa-se a ribeira da Fajã do Estaleiro, chegando-se às primeiras casas do Sanguinho alguns minutos depois.

No Sanguinho existem cerca de 20 casas, que outrora chegaram a albergar quase 200 pessoas que só se deslocavam ao Faial da Terra para irem à mercearia, ao médico, cumprir os seus deveres dominicais ou para assistir a uma ou outra festividade religiosa, em virtude dos produtos derivados da agricultura e da criação de animais serem suficientes para a subsistência dos seus habitantes.

No Sanguinho, assim chamado, segundo cremos, devido à presença da planta endémica da Madeira e dos Açores denominada sanguinho, reintroduzida recentemente, para além das espécies cultivadas nos pomares, como as laranjeiras, as bananeiras e os araçazeiros predominam os incensos, as criptomérias e as acácias.

No percurso, é muito frequente observarmos algumas espécies da avifauna açoriana, como o tentilhão, o melro-negro, o canário-da-terra, o milhafre, o canário, a alvéola e o santantoninho (pisco).
Teófilo Braga
(Correio dos Açores, 31278, 14 de julho de 2017, p.16)